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quarta-feira, 20 de abril de 2011

A sedução da cultura hegemônica



Existem as culturas em extinção, as culturas isoladas, as culturas dos grupos sociais, as culturas regionais e nacionais e as culturas dominantes e as hegemônicas. Cultura e economia andam juntas, mas são diferentes na essência e forma. Marx sabia disso quando foi para a Inglaterra estudar o capitalismo no seu estado mais avançado para poder entender e projetar as suas estruturas e tendências mundiais. Se, por acaso, ele vivesse hoje e quisesse estudar o futuro da cultura, teria então que passar pelas Américas.
Embora o berço e a juventude das civilizações repouse na Eurásia, as formas contemporâneas e as tendências futuras foram e são moldadas nas Américas. A China, o Oriente Médio, Grécia e Roma são as raízes do mundo que conhecemos. Mesmo possuindo ainda as marcas profundas da base cultural do planeta, todos estes lugares estão relegados a uma posição acessória perante os novos valores que emergiram nas Américas.
Isto porque o caldeirão cultural que se produziu no novo continente possibilitou pela primeira vez a miscigenação entre os mais diferentes povos dos quatro cantos do planeta. Africanos, asiáticos, europeus não apenas combinaram seus valores, foram mais longe, produzindo uma nova cultura da destilação conjunta de elementos e experiências variadas. Mais importante que um mundo multicultural é sua conseqüência a longo prazo: o interculturalismo e o transculturalismo.
A América Latina, particularmente o Brasil, é o maior campo de fusão e fluidez cultural da história. Os brasileiros ainda têm dificuldades de compreender que no Brasil se produziu a melhor semente do mundo de amanhã. Mas assim como o motor do capitalismo trocou a Europa pelos Estados Unidos, onde as elites sabem exercer sua hegemonia, hoje o poder da fusão cultural começa a deixar o Brasil, sem que muitos brasileiros se dêem conta. Pior, o complexo de inferioridade e a idéia de que a combinação de raças e culturas empobrece o Brasil foi e é inconscientemente ainda a base da percepção das nossas elites. 
Durante certo tempo o mundo olhou para a fusão cultural brasileira como um possível modelo para o futuro da Humanidade e para uma resposta positiva à pergunta seguinte: poderá a civilização do século 20 ser mais do que o somatório de tribos étnicas prontas para matar e roubar em nome de uma identidade pragmática e descartável? A incapacidade dos governantes brasileiros de entenderem o país e a sua insensibilidade para reduzir as desigualdades sociais permitiram que as cruéis mazelas do Brasil deformassem a benevolência, a cordialidade emergente do nosso transculturalismo.
Afinal, temos muita miscigenação, com muita discriminação. Boa parte da produção transcultural do Brasil foi rotulada pelas elites de folclore. Para nossas elites a miscigenação era um mal que condenara o Brasil ao atraso eterno. Embora desde Gilberto Freyre esta percepção venha mudando, ela resiste até hoje no subconsciente dos governantes. Quando o mundo percebeu esta realidade concluiu: se os brasileiros se viam como inferiores, então a via brasileira para um mundo de comunhão cultural deveria ser uma farsa e seria melhor manter a política multicultural de cada macaco no seu galho do que a armadilha transcultural da miscigenação brasileira.
Preferindo pagar dois dólares por um hambúrguer do que um dólar pelo nosso nutricionalmente superior prato feito: legumes, cereais, bife e suco; preferindo Papai Noel e neve de algodão, casar com as louras e fornicar com as morenas, nossas elites sufocaram a sedução da nossa cultura e a impediram de se tornar hegemônica. Agiram para reforçar a imagem de um Brasil desigual e inimigo da natureza e entregaram o país à lógica cultural dominante de um mundo formado por tribos com identidades pré-rotuladas, mundo dos guetos e do ódio étnico global.

O QUE É INDÚSTRIA CULTURAL


 A existência de meios de comunicação capazes de colocar uma mensagem ao alcance de grande número de indivíduos não basta para caracterizar a existência de uma Indústria Cultural e de uma cultura de massa.
 A Indústria Cultural é fruto da sociedade industrializada, de tipo capitalista liberal. Mais especificamente, porém, a indústria cultural concretiza-se apenas numa segunda fase dessa sociedade, a que pode ser descrita como a do capitalismo de organização (ou monopolista) ou, ainda, como sendo a sociedade dita de consumo.
  considerada ainda como condição para a existência dessa Indústria uma oposição entre a cultura dita superior e a de massa, apesar dos equívocos envolvidos nessa divisão. Admitida essa divisão, pode-se falar na existência de uma cultura superior, outra média(midcult) e uma terceira, de massa (masscult,inferior). A segunda distingue-se da terceira, basicamente, por sua pretensão de apresentar produtos que se querem superiores mas que são,  de fato, formas desbastadas daqueles. Ao passo que a masscult se contenta com o fornecer produtos sem qualquer pretensão ou álibi cultural.
 É possível ainda, estabelecer-se uma oposição entre a cultura popular, entendida como soma dos valores ancestrais de um povo, e a cultura dita pop, outra designação de cultura de massa. Os mesmos excessos de valorização da cultura superior, diante da de massa, também são encontrados na defesa da popular diante da pop.
 Com seus produtos, a Indústria Cultural pratica o reforço das normas sociais, repetidas até a exaustão sem discussão. Em conseqüência, uma outra função: a de promover o conformismo funcional. Ela fabrica seus produtos cuja finalidade é a de serem trocados por moeda; promove a deturpação e a degradação do gosto popular; simplifica  ao máximo seus produtos, a obter uma atitude sempre passiva do consumidor; assume uma atitude paternalista, dirigindo o consumidor ao invés de colocar-se a sua disposição.
 Ao lado da defesa da Indústria Cultural está a tese de que não é fator de alienação na medida em que sua própria dinâmica interior a leva a produções que acabam por beneficiar  o desenvolvimento do homem. A favor desta idéia lembra-se, por exemplo que as crianças hoje dominam muito mais cedo a linguagem graças a veículos como a TV. O acúmulo de informação acaba por transformar-se em formação dos indivíduos, isto é, a quantidade provocando alterações na qualidade. Ou que a Indústria Cultural acaba por unificar não apenas as nacionalidades mas também as próprias massas.
Não se sabe bem o que é massa. Ora é o povo, excluindo-se a classe dominante. Ora são todos. Ou um conjunto amorfo de indivíduos sem vontade. Pode surgir como um aglomerado heterogêneo de indivíduos, ou como entidade absolutamente homogênea para outros. O resultado é que o termo “massa” acaba sendo utilizado quase sempre conotativamente (isto é, com um segundo sentido) quando deveria sê-lo denotativamente com um sentido fixado, normalizado.Na verdade esta é uma questão um tanto bizantina: essa cultura de ou para ou sobre a massa existe para quem se der ao trabalho de abrir os olhos.
 Havendo preconceito de classe diante das reais dificuldades metodológicas de delimitação do conceito de massa, talvez seja melhor falar-se numa cultura industrial ou industrializada, particularmente quando se pretende atribuir a essa entidade um valor negativo.


Antropocentrismo




É toda a doutrina que considera o Homem o centro do cosmos. Todas as religiões se podem considerar simultaneamente teocêntricas e antropocêntricas, na medida em que, muito embora o centro absoluto da criação seja Deus, o Homem é aquele que, entre todas as criaturas, deve cumprir os preceitos divinos e, desse modo, salvar-se a si próprio.
Nas religiões do livro, quer dizer, nas religiões que têm por base o Antigo Testamento (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), o antropocentrismo é evidente, pois aí a criação, segundo diz o Genesis, existe para o Homem. Não deixa de ser curioso notar que foi uma interpretação materialista dessa expressão espiritual que levou à errada compreensão de que caberia ao homem a exploração material da natureza - que é a base da conceção ocidental desde, pelo menos, a modernidade.
O antropocentrismo encontra-se mesmo nas doutrinas orientais, como o Budismo ou o Hinduísmo, que muito embora façam do Homem apenas um ser entre todos os outros, tão imortal como eles, porque em todos os seres existe o princípio divino e imortal que vai reencarnando para um aperfeiçoamento gradual, reconhece que esse aperfeiçoamento culmina no homem, pois é o único ser que pode libertar-se da cadeia da reencarnação. Por esta razão se considera aí o Homem superior mesmo às divindades ou anjos, que só se podem libertar da corrente do tempo se encarnarem na forma de homem.
Num certo sentido, em filosofia encontramos como exemplo de antropocentrismo o sistema edificado por Kant, na medida em que aí é o homem que ordena e dá sentido à caótica natureza, pois é ele que, tendo em si o espaço, o tempo e as categorias, confere ordem ao mundo exterior. Deste modo, podemos verificar aqui uma forma especial de antropocentrismo, porque o Homem é o centro regulador do cosmos, que em si mesmo parece caótico.
Cultura erudita: 


Os produtores da chamada cultura erudita fazem parte de uma elite social, econômica, política e cultural e seu conhecimento ser proveniente do pensamento científico, dos livros, das pesquisas universitárias ou do estudo em geral (erudito significa que tem instrução vasta e variada adquirida sobretudo pela leitura). A arte erudita e de vanguarda é produzida visando museus, críticos de arte, propostas revolucionárias ou grandes exposições, público e divulgação.


Cultura Popular:


A cultura popular aparece associada ao povo, às classes excluídas socialmente, às classes dominadas. A cultura popular não está ligada ao conhecimento científico, pelo contrário, ela diz a respeito ao conhecimento vulgar ou espontâneo, ao senso comum.


“A obra de arte popular constitui um tipo de linguagem por meio da qual o homem do povo expressa sua luta pela sobrevivência. Cada objeto é um momento de vida. Ele manifesta o testemunho de algum acontecimento, a denúncia de alguma injustiça” (AGUILAR, Nelson (org). Mostra do Redescobrimento: arte popular. In: BEUQUE, Jacques Van de. Arte Popular Brasileira, p. 71). O artista popular não está preocupado em colocar suas obras expostas em lugares prestigiados.


Nesse sentido, o mais importante na arte popular não é o objeto produzido, e sim o próprio artista, o homem do povo, do meio rural ou das periferias das grandes cidades. Por isso também a arte popular é sempre contemporânea a seu tempo. Por exemplo, a arte popular do século XVIII (as cantigas, poemas e estórias registradas pelos estudiosos) é bem diferente de outras formas de arte popular hoje, como o rap, o hip hop e o grafitti, que acontecem nas periferias dos grandes centros urbanos como São Paulo. O rap e o hip hop aparecem associados quase especificamente à população negra, excluída socialmente.


A cultura popular é conservadora e inovadora ao mesmo tempo no sentido em que é ligada à tradição mas incorpora novos elementos culturais. Muitas vezes a incorporação de elementos modernos pela cultura popular (como materiais como plástico por exemplo) a transformação de algumas festas tradicionais em espetáculos para turistas (como o carnaval) ou a comercialização de produtos da arte popular são, na verdade, modos de preservar a cultura popular a qualquer custo e de seus produtores terem um alcance maior do que o pequeno grupo de que fazem parte.


O artista popular tira sua “inspiração” de acontecimentos locais rotineiros, a arte popular é regional. Por isso a arte popular se encontra mais afetada pela cultura de massas que atinge a todas as regiões igualmente e procura homogeneizá-las culturalmente do que a erudita.


O produtor de cultura popular e o de cultura erudita podem ter a mesma sofisticação, mas na sociedade não possuem o mesmo status social - a cultura erudita é a que é legitimada e transmitida pelas escolas e outras instituições. É importante ressaltar que os produtores da cultura popular não têm consciência de que o que fazem têm um ou outro nome e os produtores de cultura erudita têm consciência de que o que fazem tem essa denominação e é assunto de discussões, mesmo porque os intelectuais que discutem esses conceitos fazem parte dessa elite, são os agentes da cultura erudita que estudam e pesquisam sobre a cultura popular e chegam a essas definições.

sábado, 16 de abril de 2011

Culturas híbridas

Apresenta uma importante reflexão sobre a problemática da
modernidade na América latina. A modernidade já não é mais uma via sem
saída, é possível entrar nela, assim com é possível e preciso sair dela. Como
saída,mostra questões como: pós-modernidade, hibridação, poderes oblíquos,
descoleção e desterritorialização, as quais se configuram, de uma forma muito
peculiar, no processo de modernização, estabelecido e estabelecendo-se, mais
tarde do que se esperava , no chamado Terceiro Mundo latino.A analise das
estratégias de entrada e saída da modernidade, partindo do princípio de que na
América latina não há uma firme convicção de que o projeto moderno deva ser
o principal objetivo ou o algo a ser alcançado, "como apregoam, políticos,
economistas e a publicidade de novas tecnologias". Essa convicção tão
presente e relevante para o crescimento econômico das chamadas potências
mundiais, desestabilizou-se a partir do momento em que se intensificou as
relações culturais com países recém independentes do continente americano,
na medida em que se cruzaram etnias, linguagens e formas artísticas. Essa
nova situação são denominadas intercultural de hibridação em vez de
sincretismo ou mestiçagem, porque abrange diversas mesclas interculturais -
não apenas as raciais, às quais costuma limitar-se o termo 'mestiçagem' - e
porque permite incluir as formas modernas de hibridação, melhor do que
'sincretismo', fórmula que se refere quase sempre a fusões religiosas ou de
movimentos simbólicos tradicionais.
Esses estudos são baseados entre as diferentes manifestações culturais e artísticas (muitas delas anônimas): desde passeatas reivindicatórias, passando
pela pintura, arquitetura, música, grafite e histórias em quadrinhos até a
simbologia dos monumentos. Começa-se a refletir sobre o que chamamos de
migrações multidirecionais, relativizadoras do paradigma binário que tanto
balizou a concepção de cultura e poder na modernidade. Esse setores, aliás,
perdem suas antigas fronteiras, misturam-se, confundem-se, em consonância
com as novas tecnologias comunicacionais da atualidade.

O autor fala da linguagem das manifestações híbridas que nascem do
cruzamento entre culto e o popular através de um videoclipe. Dessencializa,
assim, tanto a idéia de uma tradição autogerada, construída por camadas
populares, quanto a noção de arte pura, ou arte erudita. A linguagem paródica,
acelerada e descontínua do videoclipe representa a desconstrução das ordens
habituais, deixando que apareçam as rupturas e justaposições, entre essas
duas noções tradicionais de cultura, que culminam em um outro tipo de
organização dos dados da realidade. Por fim de conter as formas dispersas da
modernidade, foi investigado o fenômeno da cultura urbana, principal causa da
intensificação da heterogeneidade cultural. É na cidade, portanto na realidade
urbana, que se processa uma constante interação do local com redes nacionais
e transnacionais de comunicação.
Dissolver-se na massa e no anonimato é apenas uma das facetas da
metrópole, a outra é das comunidades periféricas que criam vínculos locais de
afetividade e de condescendência e saem pouco de seus espaços. A questão é
que essas estruturas microssociais da urbanidade - o clube, o café , a associação de vizinhos, o comitê político etc. - que antes se interligavam com
uma continuidade utópica dos movimentos políticos nacionais, estão cada vez
mais desarticuladas enquanto representação política. Isso se deve, dentre
outros fatores, às dificuldades dos grupos políticos para convocarem trabalhos
coletivos, não rentáveis ou de duvidoso retorno econômico - e é cada vez mais
imperativo o adágio : "tempo é dinheiro". Os critérios mais valorizados são os
que se ligam à rentabilidade e eficiência. O tempo livre dos setores populares,
coagidos pelo subemprego e pela deteriorização salarial, é ainda menos livre
por ter que preocupar-se com o segundo, ou terceiro trabalho, ou em procurá-
los. A maior relevância da mídia, hoje, nesse sentido, é por se tornar a grande
mediatizadora ou até substituta de interações coletivas. A participação de
camadas periféricas relaciona-se cada vez mais com uma espécie de
"democracia audiovisual", em que o real é produzido pela imagens da mídia.
Da idéia de urbanidade e teleparticipação, o autor passa a investigar a questão
da memória histórica, desfazendo a perspectiva linear de que a cultura massiva
e midiática substitui a herança do passado e as interações públicas. Nesse
sentido, investiga a presença dos monumentos e a sua relação ambivalente em
meio as transformações da cidade.

O monumentos não são mais
os cenários que legitimam o culto do tradicional, abertos à dinâmica urbana
facilitam que a memória interaja com a mudança, que os heróis nacionais a
revitalizam graças à propaganda ou ao trânsito: continuam lutando com os
movimentos sociais que sobrevivem a eles.

Analisando ainda a problemática da cultura urbana,o autor estuda dois
processos diferenciados e complementares de desarticulação cultural: o
descolecionamento e a desterritorialização. O primeiro envolve a recusa pós-
moderna de se produzir bens culturais colecionáveis, o que seria uma sintoma
mais claro de como se desconstituem as classificações que distinguiam o culto
do popular e ambos do massivo. Desaparece cada vez mais a possibilidade de
ser culto por conhecer apenas as chamadas "grandes obras"; o ser popular não
se constitui mais a partir do conhecimento de bens produzidos por uma
comunidade mais ou menos fechada. O intelectual pós-moderno se constitui a
partir de sua biblioteca privada, onde livros se misturam com recortes de
jornais, informações fragmentárias no "chão regados de papéis disseminados",
conforme Benjamim.
A partir dos novos dispositivos tecnológicos como a fotocopiadora, o
videocassete e o vídeo game que não podem ser considerados como cultos ou
populares, as coleções se perdem e com elas, as referências semânticas e
históricas que amarravam seu sentido. No primeiro dispositivo há a
possibilidade do manejo mais livre e fragmentário dos textos e do saber, no
segundo é permitido a reorganização de produções audiovisuais
tradicionalmente opostas: o nacional e o estrangeiro, o lazer e o trabalho a
política e a ficção etc. O terceiro, enfim, desmaterializa e descorporifica o
perigo dando-nos unicamente o prazer de ganhar dos outros ou a
possibilidade, ao sermos derrotados, de que tudo fique na perda de moedas
numa máquina.
Segundo processo da desterritorialização, se constitui como mais radical
significado de entrada e saída da modernidade. Para ilustrar isso, ele analisa
primeiro a trasnacionalização dos mercados simbólicos e as migrações. Nesse
sentido desconstrói os antagonismos : colonizador vs. Colonizado e nacionalista e cosmopolita, ao enfatizar a descentralização das empresas e a
disseminação dos produtos simbólicos pela eletrônica e pela telemática, o uso
de satélites e computadores na difusão cultural também impedem de continuar
vendo os confrontos dos países periféricos como combates frontais com
nações geograficamente definidas. É importante esclarecer, para destituir a
idéia de maniqueísmo, que a difusão tecnológica também permitiu a países
dependentes registrarem um crescimento notável de suas exportações
culturais, basta lembrar do crescimento da produção cinematográfica e
publicitária do Brasil nos últimos anos.

Outro fator importante para a desterritorialização, é o que o autor chama
de migrações multidirecionais, a constância cada vez maior da realidade
diaspórica. Tal realidade é muito bem ilustrada pelo seu estudo sobre os
conflitos interculturais em Tijuana, fronteira entre o
México e os Estados Unidos. Ele afirma: "várias vezes pensei que essa cidade
é , ao lado de Nova Iorque, um dos maiores laboratórios da pós-
modernidade"(p. 315) . O caráter multicultural desse local não se expressa
apenas no uso do espanhol e do inglês, mas nas relações divergentes e
convergentes que se dão entre uma cultura e outra. Ao mesmo tempo há uma
tentativa de retorno ao tradicional, ou pelo menos, uma tentativa de reinventá-
lo. Em Tijuana, a busca pelo autêntico atende também aos interesses do
mercado turístico. Visitantes tiram foto em cima de burros pintados que imitam
zebra, ao fundo imagens de várias regiões do México: vulcões, figuras astecas,
cactos etc.
Por outro lado, em conseqüência ao processo da descoleção, como já fora
explicitado, o artista perde sua áurea como fundador da gestualidade e das
mudanças totais e imediatas. As práticas artísticas carecem agora de
paradigmas consistentes: o cânone, a genialidade e a erudição são idéias
ultrapassadas e pretensiosas. Ao artista ou ao artesão (categorias cada vez
menos diferenciadas) restam às vezes as cópias, a possibilidade de repetir
peças semelhantes, ou a possibilidade de ir vê-las num museu ou em livros
para turistas.Como proposta de uma prática artística híbrida, o autor finaliza
seu texto, falando do grafite e dos quadrinhos, gêneros impuros que desde o
nascimento abandonaram o conceito de coleção patrimonial, e se estabelecem
como "lugares de interseção entre o visual e o literário, o culto e o popular". A
ambivalência do grafite se constitui, quando, ao mesmo tempo, que serve para
afirmar territórios de grupos étnicos ou culturais, também desestrutura as
coleções de bens materiais e simbólicos da chamada "alta cultura". Os
quadrinhos contribuem para mostrar a potencialidade de uma nova narrativa e
do dramatismo que pode ser condensado em imagens estáticas. É o estilo
mais lido e o ramo da indústria editorial que produz maiores lucros; por sua
relação constante com o cotidiano, acaba por revelar referências e
contradições da própria contemporaneidade.

Para ilustrar essas manifestações deslocadas, o autor fala de uma
famosa tira de Fontanarrosa, em que um personagem "contrabandista de
fronteira" foge da polícia "de 15 países"- o personagem não contrabandeia
através de fronteira, mas a própria fronteira: balizas, barreiras, marcos, arames
farpados etc. Após vender uma defeituosa, ele tem que se esconder para não
ser preso pela Interpol. No final, quando estava sendo perseguido, o personagem acaba por entrar numa manifestação popular, pensando se tratar
de uma procissão, porém, na verdade, se tratava de um movimento grevista de
policiais. A frase conclusiva que encerra a tira, dita por outro personagem que
presencia toda a aflição do protagonista, é emblemática do momento pós-
moderno: "A gente nunca sabe onde vai estar metido no dia de amanhã".

Etnocentrismo

O conceito de etnocentrismo parte do estudo do estudo do grande choque e da grande estranheza que se dá no encontro de dois ou mais grupos diferentes. Surge, então, o grupo do "eu" e o grupo do "outro", tendo o primeiro como real, absoluta e principal referência e a segunda como algo exótico, excêntrico, anormal, exuberante e primitivo.

No contexto do Descobrimento da América, a problematização dessa expressão se deu de forma mais grave, pois como o grupo do eu (colonizador) tinha o recurso da força das armas de fogo, se achou no direito de definir o grupo do outro (índio) segundo seus princípios e valores e exercer a grande dificuldade moral e intelectual que tinham de conviver com a diferença cultural, social e emocional deste povo, impondo que suas manifestações eram selvagens, esdrúxulas, antropófagas, pré-históricas e precisavam serem destruídas ou "civilizadas".

Essa iniciativa causou em toda a história da formação do continente americano genocídios, pré-conceitos, preconceitos, manipulações ideológicas, julgamentos precipitados e sérias distorções culturais, comportamentais e educacionais na construção do conhecimento da trajetória do ameríndio na nossa "civilização ocidental", pois jamais lhe era dado o direito e o dever de falar de si e por si próprio, sendo sempre mau interpretado e estereotipado em filmes e livros didáticos ora como brabo, ora como manso, ora como preguiçoso, ora como incapaz, ora como bobo e nunca como ser pensante, inteligente dotado de cultura, tradições e costumes.

Esta visão de mundo é o pontapé inicial para a construção de uma ciência que trabalhe a diferença entre os seres humanos de forma que essas mesmas diferenças não causem hostilidades e sim alternativas e possibilidades diversas à superação de limites existenciais comuns de abertura do "eu" para o "outro" ou vice-versa. Esta ciência é a "Antropologia" que através da teoria da relativização, criada após a teoria do evolucionismo (diferentes graus de evolução de grupos sociais no processo progressivo do desenvolvimento humano), se preocupou em refletir sobre o conceito de cultura e descentralizar qualquer tipo de ideologia, apresentando aspectos, nuanças e características na abertura da multiplicidade de pontos de vista, soluções e perguntas sobre o saber científico.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Significados de Cultura

Cultura - Valor:

Cultura de valor é aquela em que todos - e cada um - se envolvem no atendimento de interesses comuns de seus ambientes, valorização de idéias, tradições e relacionamentos. Não basta apenas buscar a excelência em um ou alguns objetos de sua missão. Acionistas, clientes, recursos humanos, sociedade e os demais, devem ser tratados de forma integrada nas estratégias, nos sistemas, produtos e serviços. Administrar tantas atividades requer uma cultura que oriente, dê sinergia e assegure resultados - uma cultura de valor.
Cultura - Mercadoria:

Cultura - Mercadoria é uma cultura expansionista de comercialização, de indústrias,  e exportação de mercadorias de uma determinada região.
   Ou seja,tudo está relacionado ao consumo como, por exemplo, os modos de produção e de circulação dos bens, os padrões de desigualdade no acesso aos bens materiais e simbólicos, a maneira como se estruturaram as instituições da vida cotidiana (como a família, o lazer, os ambientes urbanos, etc.). Nossa sociedade-cultura de consumo constantemente cria novos espaços para os consumidores, tornando o consumo, um "sistema global" que molda as relações dos indivíduos na pós-modernidade e é reconfigurada por tecnologias variáveis que determinam os padrões de consumo.

Cultura - Alma coletiva

Cultura - Alma coletiva é sinônimo de “civilização”. Cultura negra, cultura chinesa, cultura marginal, etc.

Ideologia e Cultura


Introdução
Pretende-se aqui delinear a evolução do conceito de cultura, pinçando idéias defendidas no passado tais como, o determinismo biológico, geográfico, antecedentes históricos do conceito de cultura, mostrando a conciliação da unidade biológica e da grande diversidade cultural da espécie humana. O desenvolvimento do conceito de cultura, idéias sobre a origem da cultura e teorias modernas sobre cultura organizacional e, fatores que compõem a cultura brasileira. Porém, ressalta-se que não se pretende esgotar a discussão nesta apresentação, pois a natureza e a amplitude do tema não permite findar esta discussão devido as perspectivas multidisciplinares e das diversas abordagens em que se pode visualizar o emprego e a interseção do estudo da cultura, tais como a semiótica e a hermenêutica.

Origem da cultura e antecedentes históricos do conceito de cultura

O termo cultura segundo o Novo Dicionário da língua portuguesa significa “ato, efeito ou modo de cultivar. Complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característica de uma sociedade” . Porém no final do século XVIII e no princípio do século XIX, o termo germânico Kultur era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa "Civilization", referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Mais tarde Edward Tylor (1832-1917) sintetizou os dois termos no vocábulo inglês Culture, que
tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.
Segundo Laraia (1996: 25) com a definição acima apresentada Tylor abrange em suma só palavra todas as possibilidades de realização humana, além de marcar fortemente o caráter de aprendizado da cultura em oposição a idéia de aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos.
Há muito tempo se estuda o comportamento dos animais, inclusive o comportamento do homem, com a finalidade de entender o que o conduz as atividades cotidianas, as relações entre eles na formação dos grupos, e na relação entre outros grupos. Confúcio (VX séc. a C.) enunciou que “a natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm separados” este é um pensamento compartilhado por vários estudiosos até a atualidade, inclusive adotado pelas ciências sociais quando se trata de estudos inerentes (ligados) a cultura organizacional. Pois, não há como se aceitar algo como bom ou mal, sem uma análise prévia, quando esta não é prática em sua terra, isto vale para práticas de gestão sugeridas a serem adotadas em uma organização. Há que se observar e analisar as possibilidades de adequação.
Segundo Sahlins apud Laraia (1996: 24),
“(…) a posição da moderna antropologia é que a cultura age seletivamente, e não casualmente, sobre o seu meio ambiente, explorando determinadas possibilidades e limites ao desenvolvimento, para o qual as forças decisivas estão na própria cultura e na história da cultura.”
Apesar da evolução do conceito de cultura demonstrar que as questões biológicas e geográficas não interferem nas ações humanas, ainda existe alguns resquícios no que diz respeito as questões referentes a supremacia de raça (inteligência) e da melhor localização geográfica (nordeste brasileiro).